Acusados de participação no assassinato da médica Milena Gottardi são condenados após 8 dias de julgamento
Os seis réus acusados de envolvimento no assassinato da médica pediatra Milena Gottardi foram condenados pelo júri popular em um julgamento que durou 8 dias no Fórum de Vitória. A sentença do júri foi lida na noite desta segunda-feira (30) pelo juiz Marcos Pereira Sanches, titular da 1ª Vara Criminal de Vitória.
O ex-policial civil Hilário Frasson, marido da médica é acusado de ser um dos mandantes do crime, foi considerado pela Justiça o principal responsável pelo crime e foi condenado a 30 anos de prisão. “Ele teve a culpabilidade reconhecida. Além disso, era um agente da lei, que deveria combater o crime e não praticá-lo. O acusado também era influente entre pessoas poderosas, fazendo negociações espúrias. Uma pessoa com personalidade desajustada sem compaixão com a vida da própria esposa e mãe de suas próprias filhas”, destacou o magistrado, ao ler a sentença.
“São consequências incalculáveis para as filhas que ficaram sem mãe, a dor intensa da própria mãe da vítima (Zilca Gottardi). Acrescento, também, a conduta do acusado: além de deixar as filhas sem mãe, destruiu nelas a sua própria figura de pai”, completou o juiz.
- Dionathas Alves Vieira – O executor confesso do assassinato de Milena foi condenado, inicialmente, a 28 anos e oito meses de prisão. No entanto, no entendimento do juiz, Dionathas confessou o crime e colaborou com a Justiça para a elucidação do crime. Por causa disso, sua pena foi reduzida em dez anos, passando para 18 anos e oito meses.
- Bruno Broetto – acusado de ter fornecido a moto para Dionathas cometer o crime, teve a culpabilidade reconhecida e foi condenado a10 anos e cinco dias. Segundo o juiz, o acusado sabia que a moto seria utilizada para um crime e entregou uma motocicleta irregular ao outro réu.
- Valcir da Silva Dias e Hermenegildo Palauro Filho – foram condenados a 26 anos e 10 meses de prisão cada um. Segundo o magistrado, Valcir foi o principal intermediário e participou de todas as tratativas do crime, além de ter contato com o executor do crime antes, durante e depois. Por fraude processual, foi condenado também a 10 meses de reclusão.
- Esperidião Frasson – sogro de Milena, foi condenado a 30 anos de reclusão. Segundo a Justiça, ficou comprovado que ele foi o outro mandante do crime, acobertou e agiu para sua cruel execução.
“O acusado era uma pessoa temida na região, de personalidade maldosa e sem compaixão com a sua nora e mãe de suas próprias netas”, destacou o juiz.
O magistrado ainda estipulou uma multa de R$ 700 mil de indenização coletiva para a família de Milena Gottardi. A multa vale para todos os seis réus julgados e condenados.
Entenda a participação de cada réu no caso
As investigações concluíram que Hilário e Esperidião encomendaram o assassinato de Milena Gottardi por não aceitarem o fim do casamento entre ela e o então policial civil. Para isso, eles teriam contratado Valcir e Hermenegildo para dar suporte ao crime e encontrar um executor. Ainda segundo a polícia, Dionathas Alves foi o escolhido para executar o “serviço” como os envolvidos se referiam ao assassinato da médica. Para isso, ele receberia uma recompensa de R$ 2 mil.
Dionathas teria usado uma moto, repassada a ele pelo cunhado Bruno, para seguir de Fundão até Vitória e matar Milena. O veículo foi apreendido em uma fazenda em Fundão, no mesmo dia em que Dionathas e Bruno foram presos. Na época, o executor confesso do assassinato disse à polícia que o crime foi planejado durante cerca de 25 dias.
O inquérito, no entanto, aponta que o planejamento do homicídio começou pelo menos dois meses antes do crime. Segundo as investigações, os seis acusados de envolvimento na morte de Milena Gottardi trocaram 1.230 ligações e formaram uma rede de comunicação antes e após o crime.
Hilário foi denunciado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) como um dos mandantes do assassinato de Milena Gottardi. Ela foi morta a tiros no estacionamento do Hospital das Clínicas, em Vitória, no momento em que seguia para o carro para voltar para casa.
Hilário está preso desde o dia 21 de setembro de 2017, exatamente uma semana depois do assassinato de Milena. O ex-policial foi detido na Chefatura da Polícia Civil, em Santa Luíza, na capital. Na época, ele atuava como assessor técnico do gabinete do Chefe da PCES, Guilherme Daré. Com a suspeita de participação no assassinato da ex-esposa, a Polícia Civil abriu um procedimento administrativo disciplinar (PAD) contra Hilário, que resultou na expulsão dele da corporação. O ex-policial civil está preso na Penitenciária de Segurança Média I, em Viana.
Relembre o assassinato de Milena Gottardi
O assassinato de Milena Gottardi aconteceu na noite do dia 14 de setembro de 2017 e ganhou grande repercussão no Espírito Santo. A médica atuava como pediatra oncológica no Hospital das Clínicas, em Maruípe, Vitória. Quando saía de um plantão, acompanhada de uma amiga, Milena foi abordada no estacionamento do hospital por um homem armado, que chegou a anunciar um assalto.
Milena e a amiga chegaram a entregar os pertences ao suposto assaltante. Quando elas se dirigiam ao carro, o criminoso atirou em direção à pediatra, atingindo ela na cabeça e na perna, e fugindo posteriormente. A médica foi socorrida e internada em um hospital, mas morreu no dia seguinte.
A Polícia Civil agiu rápido e, dois dias depois, dois suspeitos de envolvimento no crime foram detidos: Dionathas Alves Vieira, acusado de ser o executor do crime, e Bruno Rodrigues Broetto, apontado pela polícia como o responsável por conseguir a moto utilizada por Dionathas no dia do assassinato. A prisão dos suspeitos aconteceu praticamente ao mesmo tempo em que o corpo de Milena era sepultado em Fundão, município onde a médica nasceu e foi criada, e onde grande parte de sua família ainda mora.
Com a prisão da dupla, a polícia começou a desvendar o crime e provar que Milena não havia sido vítima de um latrocínio como fez parecer o autor dos disparos, mas sim de um crime de mando. Faltava, no entanto, chegar aos mentores do assassinato.De acordo com o Ministério Público Estadual (MPES), o motivo do crime foi porque Hilário não aceitava a separação, o que o fez “nutrir um sentimento de ódio contra a médica”.