Ato na Avenida Paulista reúne milhares em defesa da taxação dos super-ricos e contra tarifa de Trump

Milhares de manifestantes ocuparam a Avenida Paulista, em São Paulo, na noite desta quinta-feira (10), em protesto pela taxação dos super-ricos, pela extinção da jornada de trabalho 6 por 1 (seis dias de trabalho para um de descanso) e contra as novas tarifas impostas ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A manifestação teve início às 18h, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Com o lema “Centrão, Inimigo do Povo”, o protesto foi organizado pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, com o apoio de centrais sindicais e diversos movimentos sociais. Além da capital paulista, atos semelhantes ocorreram em cidades como Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro, Fortaleza, Curitiba, Maceió, Florianópolis, Vitória, Cuiabá e São Luís.
Na Paulista, os manifestantes fecharam os dois sentidos da via no trecho em frente ao Parque Trianon, estendendo-se também até a quadra onde fica a sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Entre os presentes, estiveram os parlamentares Érika Hilton, Eduardo Suplicy, Rui Falcão e Nabil Bonduki.
Durante entrevista coletiva no local, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) classificou o protesto como “o maior do ano” na Avenida Paulista. Segundo ele, a manifestação é uma reação às políticas de Donald Trump e uma defesa da soberania brasileira.
“Trump precisa entender que o Brasil não é colônia. Não somos uma república de bananas. Isso podia acontecer na época de Bolsonaro, que bajulava os EUA, mas com o presidente Lula, a história é outra”, declarou.
Boulos também afirmou que o ato é uma resposta aos setores que dificultam a governabilidade e rejeitam medidas de justiça tributária.
“É um recado para quem se opõe a Lula e se irrita quando se fala em cobrar impostos dos super-ricos. E também para quem não aceita o fim da escala 6 por 1, que penaliza o trabalhador”, completou.
Protesto amplia pauta contra “BBBs”: bancos, bets e bilionários
Um dos principais focos do protesto é a defesa da taxação dos chamados “BBBs” — bancos, casas de apostas (bets) e bilionários —, setores que, segundo os organizadores, contribuem pouco com impostos em relação ao que acumulam. A proposta encontra forte resistência no Congresso, cuja maioria, alegam os manifestantes, representa interesses empresariais e rurais.
Os manifestantes também criticaram a revogação, pelo Congresso, do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que poderia gerar R$ 20 bilhões em arrecadação no próximo ano.
A decisão de Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto foi incluída à pauta do protesto de última hora. Os organizadores atribuem a iniciativa norte-americana à influência da família Bolsonaro no cenário político internacional.
Em entrevista à Agência Brasil, a coordenadora da Frente Povo Sem Medo, Juliana Donato, afirmou que a mobilização também se deu por insatisfação com o Congresso, que, segundo ela, tenta impor uma agenda paralela à do governo eleito.
“Essa tarifa do Trump foi articulada com apoio da extrema-direita brasileira. E agora querem que o povo pague a conta. Por isso estamos nas ruas: queremos justiça fiscal, fim da escala 6×1 e isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil”, declarou.
“Enquanto nós propomos taxar os bilionários, eles querem taxar o Brasil”, completou.
CUT: Congresso precisa ouvir a população
Raimundo Suzart, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Paulo, reforçou a importância do ato após o anúncio da taxação norte-americana.
“Este é um momento para mostrar força. Queremos o retorno do aumento do IOF, discutir a redução da jornada de trabalho sem corte salarial e acabar com a escala 6×1. O povo está nas ruas exigindo que o Congresso respeite a pauta de um governo eleito para defender os trabalhadores e a democracia”, disse.
Durante o ato, também foi realizada uma campanha de coleta de assinaturas para o Plebiscito Popular, uma consulta pública que busca ouvir a população sobre a jornada 6×1 e a tributação dos super-ricos. Juliana Donato explicou que o objetivo é envolver milhões de brasileiros nesse debate.
“Queremos saber o que o povo pensa sobre essas questões. O Congresso não pode legislar sem ouvir quem o elegeu”, afirmou.
Público supera manifestação da direita
Segundo o Monitor do Debate Político, projeto conduzido pela Universidade de São Paulo (USP), Cebrap e a ONG More in Common, com base em imagens e análise via inteligência artificial, cerca de 15,1 mil pessoas participaram do protesto em seu pico, com margem de erro de 12%. O público estimado variou entre 13,3 mil e 16,9 mil participantes.
A mobilização superou em número o ato Justiça Já, realizado em 29 de junho com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro, que, segundo o mesmo monitoramento, reuniu 12,4 mil pessoas.
Fonte: Agência Basil