Debates sobre clima ganham força com início da conferência de Bonn, prévia da COP30

Começou nesta segunda-feira (16), na Alemanha, a 62ª sessão dos Órgãos Subsidiários da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas (SB 62), no Centro Mundial de Conferências de Bonn. A reunião, que vai até o dia 26 de junho, marca o primeiro encontro presencial do ano para debater os rumos das negociações climáticas globais, abrindo caminho para os temas que estarão em pauta na COP30, que ocorrerá em novembro, em Belém (PA).
Realizada anualmente, a conferência de Bonn tem como objetivo promover o intercâmbio de dados científicos e tecnológicos, além de fortalecer consensos para a ação climática internacional. Com papel de destaque este ano, o Brasil lidera as articulações em torno de uma agenda focada na implementação de compromissos já assumidos.
Segundo Míriam Garcia, gerente de Políticas Climáticas do WRI-Brasil e integrante da delegação brasileira, um dos principais desafios é reconstruir a confiança entre os países, abalada por tensões recentes nas negociações. Ela relembra que a COP29, no Azerbaijão, chegou a ser ameaçada de fracasso devido a impasses na aprovação de metas de financiamento.
Como forma de resgatar o diálogo, o presidente designado da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, propôs uma reunião informal no “Dia Zero” — realizado neste domingo (15) — reunindo os líderes de delegações antes do início oficial das discussões, com o objetivo de restabelecer o espírito de colaboração mútua.
“A negociação climática só avança se houver confiança. Os países precisam acreditar que, ao cederem em um ponto, também receberão concessões”, afirma Míriam.
Três prioridades para a COP30
A delegação brasileira foi orientada a concentrar esforços em três frentes principais:
- Desenvolvimento de indicadores para medir o Objetivo Global de Adaptação (GGA);
- Implementação dos resultados do Balanço Global (GST);
- Avanços no Programa de Trabalho sobre Transição Justa (JTWP).
De acordo com Alexandre Prado, especialista em mudanças climáticas do WWF-Brasil, há 48 temas formais a serem tratados durante a conferência em Bonn, desdobrando-se em dezenas de assuntos relacionados à ação climática.
Um dos pontos centrais será a operacionalização do primeiro Balanço Global, finalizado em 2023, que avaliou os progressos na implementação do Acordo de Paris e indicou o que ainda precisa ser feito para limitar o aquecimento do planeta a 1,5 °C. A expectativa é avançar em compromissos relacionados à redução de emissões, transição energética, fim do desmatamento até 2030 e financiamento climático.
Participação da sociedade civil
Prado destaca que há grande expectativa sobre o nível de engajamento social em Bonn, especialmente após três COPs realizadas em países com restrições democráticas (Egito, Emirados Árabes e Azerbaijão). Para ele, a edição deste ano será um termômetro importante para avaliar o espaço real de atuação da sociedade civil no processo de negociação.
A adaptação às mudanças climáticas é uma das prioridades do Brasil para a COP30. O tema inclui o desenvolvimento de planos nacionais de adaptação (NAPs), a criação de indicadores para acompanhar metas e a consolidação de um pacto global para ações concretas.
Transição Justa: inclusão e equidade no centro da pauta
Desde 2022, com a COP27, o conceito de “transição justa” passou a ganhar espaço nas discussões. O tema propõe um modelo de desenvolvimento que leve em consideração aspectos sociais e econômicos, como geração de empregos, justiça social e acesso à energia limpa. Após pouca evolução na COP29, o Brasil colocou o tema como central para as negociações deste ano.
“A transição justa aproxima a agenda climática da realidade das pessoas”, resume Míriam Garcia.
Redução de emissões: prazo se aproxima
Outro foco da conferência será acompanhar a entrega das novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), planos nacionais de redução de emissões. Apesar de o prazo inicial ser fevereiro de 2025, ele foi prorrogado até setembro. O Brasil já apresentou sua NDC, mas apenas 22 países fizeram o mesmo até o momento — representando apenas 21% das emissões globais.
Míriam aponta que atrasos se devem a diversos fatores, desde crises geopolíticas que desviam recursos para segurança até a limitação técnica de países com menos estrutura. Ela reforça que, apesar de serem compromissos internacionais, as NDCs são frutos de políticas domésticas.
Prado avalia que o atraso pode ser positivo se servir para formular metas mais realistas. Ele cita a China, maior emissora global, como exemplo de país que promete apresentar uma NDC ambiciosa. Os países do G20, principais emissores, também sinalizam que irão entregar propostas mais robustas.
“A meta de 1,5 °C ainda está distante, mas manter a pressão é essencial para que o Acordo de Paris siga vivo”, conclui Prado.
Fonte: Agência Brasil