Para Casagrande, Decisão de Trump é inaceitável e não tem base em qualquer bom senso ou relação diplomática

O governador do Espírito Santo Renato Casagrande classificou como “tarifa política e ideológica” a ação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em aplicar uma tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil. A alíquota atinge diretamente o Espírito Santo, já que o país americano é o principal destino dos produtos capixabas representando 33,9% do que foi exportado pelo estado de janeiro a junho deste ano. Entenda.
“A decisão anunciada por Trump é uma decisão inaceitável, não tem nenhuma base em qualquer bom senso, em qualquer debate, em qualquer relação diplomática, até porque o argumento inicial da carta encaminhada ao presidente Lula é um argumento político e ideológico. Então, pela primeira vez, a gente vê aparecer no radar econômico mundial uma razão ideológica para estabelecer uma tarifa como foi estabelecida. O Governo Federal e os brasileiros precisam reagir com força, contra qualquer tentativa de ameaça à soberania das nossas instituições, seja ela vinda dos Estados Unidos ou de qualquer outro país”, afirmou o governador.
Ainda segundo o governador, a medida atinge diretamente a economia capixaba, já que com maior custo de exportação, pode haver redução da exportação de aço, café, petróleo, pedras ornamentais e outros produtos ligados à agricultura.
“Isso também afeta o ânimo dos empreendedores capixabas. Modéstia à parte, nós estamos vivendo um momento muito bom no Espírito Santo, mas isso tudo deixa sempre o empreendedor e o cidadão, às vezes, com o pé no freio, adiando um pouco o investimento porque não sabe bem o que vai acontecer com o mundo, com as guerras bélicas e com as guerras tarifárias do presidente Trump. Então, o Governo do Estado também se coloca numa posição cautelosa, neste momento, para que a gente possa ir observando e fazendo os nossos contatos com os membros do Governo Federal, porque a relação institucional, diplomática, é feita pelo Poder Central”, completa.
O que diz o setor produtivo?
Representantes de setores ligados ao comércio exterior do Espírito Santo demonstraram preocupação e apontaram para os impactos negativos para a economia capixaba. Entre os segmentos mais expostos à nova taxação estão aço, rochas ornamentais, papel e celulose, minério e café, todos com forte peso na economia capixaba.
“Esse anúncio traz um impacto direto na diminuição das vendas. E com isso, há um efeito cascata em toda a cadeia econômica do Espírito Santo. Se você não tem dinheiro entrando no país para esses segmentos, você deixa de movimentar, você diminui a capacidade produtiva, a mão de obra e a geração de empregos. É ruim para os Estados Unidos, mas é pior para o Brasil e ainda mais para o Espírito Santo devido a maior abertura econômica que a gente tem em relação a outros estados. O recado que fica é que nós, empresários, esperamos um posicionamento forte das lideranças do estado, defendendo a nossa manutenção econômica. Não podemos ser passivos”, afirma Felipe Candeia, Diretor Comercial do Grupo Quattror.
Tales Machado, presidente do Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas Ornamentais (Centrorochas), aponta que a nova alíquota coloca o Brasil em desvantagem competitiva frente a outros fornecedores internacionais do setor, como Itália, Turquia, Índia e China, que enfrentarão tarifas inferiores.
“A medida ameaça o desempenho de mais de 200 empresas exportadoras brasileiras e compromete uma cadeia produtiva que gera cerca de 480 mil empregos diretos e indiretos no país”, completa Machado.
O Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex) também se manifestou e afirmou que “a adoção de tarifas punitivas dessa magnitude tende a gerar perdas significativas de competitividade, retração de investimentos e redução na geração de empregos diretos e indiretos”.