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ESPECIAL: Família de São Gabriel da Palha monta a primeira fábrica de chocolate, conheça a história do Chocolate Faccinio

O município de São Gabriel da Palha é conhecido nacionalmente como a terra do café, e agora ganha mais um destaque de empreendedorismo na produção de chocolates; a família Bissoli cultiva uma plantação de cacau há cerca de 15 anos no córrego da Serrinha, quando a cafeicultura ainda era uma das únicas atividades econômica no município. O que era para ser apenas atividade complementar acabou se transformando em um empreendimento bem maior e deu origem a fábrica de chocolates Faccinio, a primeira fábrica de chocolates de São Gabriel da Palha.

Atualmente são 2.000 pés de cacau, 1.000 deles em produção, e uma colheita de aproximadamente 40 sacas por ano. Parte é utilizada na produção de chocolate artesanal familiar. Já as amêndoas que não apresentam qualidade para produção de chocolate são comercializadas.

Em entrevista a equipe da Revista Safra Agronegócio, o casal Adelma Grigoleto Bissoli e Cleomir Bissoli Junior e o filho Willian falaram sobre o começo do negócio, os desafios e a determinação de mesmo e sem nenhum conhecimento eles fizeram as mudas de cacau com sementes de algumas frutas colhidas no quintal de um conhecido e deram início ao cultivo. “A gente queria plantar, mas não tinha conhecimento nenhum, nem acesso a informação como tem hoje. Fizemos todo processo do nosso jeito. Enchemos sacolas, colocamos as sementes e fizemos cerca de 800 mudinhas. Depois, plantamos no meio do café, e assim começamos”, conta Adelma.

Adelma contou ainda que no começo as mudas eram de sementes de baixa qualidade, a produção era muito pequena, e só depois de cerca de cinco anos surgiu a oportunidade de plantar mudas melhores por meio da indicação de pessoas conhecidas de Colatina e da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), em Linhares.

Mais uma vez eles fizeram o mesmo processo de plantio, ele contou que um amigo de Cleomir levou da Ceplac alguns galhos de cacau e o casal fez o enxerto, começando pelos pés de cacau mais velhos. Adelma lembra que nessa época começaram a surgir novos plantios no município e assistência técnica, e foi aí que ela e o marido passaram a receber apoio no cultivo da lavoura.

“Depois de um tempo, quando a gente já estava no processo de melhoria das plantas, o cacau começou a se expandir na região. Mais plantações surgiram e começou a aparecer assistência técnica. Nós também começamos a pesquisar na internet, fazer cursos, que antes a gente não tinha acesso, e assim as coisas foram melhorando. Os desafios foram muitos, sem dúvida, e só não desistimos porque somos bem persistentes em tudo que a gente começa a fazer, mas não foi fácil. Foi sem dúvida uma diversificação da agricultura familiar que deu certo”, pontua Adelma.

O técnico extensionista do Incaper Célio Roberto Cuquetto presta assistência técnica para família, com orientação no manejo da cultura do cacau, poda, adubação e controle de pragas e doenças. Célio diz acreditar muito nos produtores e suas boas ideias, mas não é tão comum encontrar pessoas com tanta determinação quanto eles. “Acredito sempre nos agricultores e suas inúmeras ideias inovadoras. Mas não é tão comum encontrar pessoas determinadas desta natureza. Eles são realmente muito criativos”, relata o técnico do Incaper.

Do cacau ao chocolate artesanal

Há cerca de dois anos, mais uma atitude empreendedora da família Bissoli começa a dar bons frutos. Após muitas pesquisas e persistência, o sonho de transformar o cacau produzido no sítio em chocolate tornou-se realidade. Porém, diferente do início do cultivo de cacau, agora os produtores tinham acesso à informação. Assim como o cultivo do cacau, todo trabalho de produção do chocolate, seleção, torra, separação da casca, pré-moagem, refino, peneragem, temperagem, molde, empacotamento e venda é feito pela família. Enquanto Cleomir cuida do cultivo, Willian e Adelma se dedicam ao beneficiamento.

“Também enfrentamos muitos obstáculos. Testamos muitas receitas, jogamos muito chocolate fora, além de todo processo burocrático para conseguir legalizar a fábrica. Mas, aos poucos o sonho foi se tornando mais próximo da realidade, a cada pesquisa, curso e investimento que fomos fazendo”, conta Adelma, que acrescentou que o investimento total passou dos R$ 100 mil.

Uma das únicas especialistas na área de alimentos no norte e noroeste do Estado, a extensionista do Incaper de Nova Venécia, Jozyellen Nunes da Costa foi quem fez todo processo junto aos órgãos municipais para legalização da fábrica. Jozyellen explica que fazer um projeto para a agricultura familiar, por si só, já é um desafio. No caso da família Bissoli, o desafio foi ainda maior, uma vez que na região praticamente não existe agroindústria. Por outro lado, a visão empreendedora da família ajudou. “Foi desafiador. A responsabilidade de legalizar um produto na região, onde não há o hábito de produzir e comercializar e praticamente não existe agroindústria, foi talvez o maior deles. Além disso, elaborar projetos para a agricultura familiar é muito desafiador. Nos deparamos com as expectativas das famílias, principalmente quanto ao investimento e o retorno dele, se vai ter viabilidade econômica ou não. No caso dessa família foi diferente devido à visão empreendedora que possui”.

Para chegar ao ponto certo da receita, Willian e Adelma fizeram vários cursos. Entre eles, os oferecidos pela Ceplac, particulares, com profissionais de renome nacional, e vários pela internet. Atualmente, produzem e comercializam cinco produtos: chocolates branco com nibs, ao leite 40{54aed5f4fddb6d735aeea9fa8da5693000eabce0382a3ccc21c416a10a0f3b2b} cacau, ao leite 60{54aed5f4fddb6d735aeea9fa8da5693000eabce0382a3ccc21c416a10a0f3b2b} cacau, 70{54aed5f4fddb6d735aeea9fa8da5693000eabce0382a3ccc21c416a10a0f3b2b} cacau sem leite e 80{54aed5f4fddb6d735aeea9fa8da5693000eabce0382a3ccc21c416a10a0f3b2b} cacau sem açúcar.

Além de ajudar a mãe na produção de chocolate, Willian foi o responsável pela escolha do nome da marca, “Faccinio”, e cuida de toda parte de divulgação. “Queria um nome que de alguma forma tivesse alguma ligação com o tipo do chocolate que fabricamos, “Bean To Bar” (da amêndoa à barra), focado em qualidade. Pensei em “fascínio”, de fascinado, mas como é uma palavra considero uma palavra complicada, e não é bom ter o nome da marca complicado, fiz uma mudança e coloquei “Faccinio” (uma adaptação mais comercial) que tem mais cara de marca.

Em meio à pandemia, a divulgação nas redes sociais tem ajudado nas vendas, que por enquanto são feitas em São Gabriel, Vila Valério e Colatina. Encomendas vindas de regiões mais distantes são entregues pelos correios. “A meta para o futuro é conseguir aliados que revendam nosso chocolate para difundir nossa marca na região e também no país”, disse Willian.

Exemplo que passa de pai para filho

Para Willian, formado em técnico agrícola, empreender é algo natural, que vem de berço. Afinal, cresceu em meio ao processo empreendedor dos pais. Primeiramente, ainda criança, vendo o esforço e o trabalho deles com o cultivo do cacau. Já adulto, ao lado da mãe, para colocar em prática a produção de chocolate. Agora, o desejo é seguir o exemplo dos pais e expandir o negócio. “Eu cresci aqui, decidi fazer formação na área agrícola, me formei como técnico e sempre tive o sonho de empreender. É isso que desejo para o futuro. Os planos são expandir a produção, comprar novos maquinários, atingir novos clientes, enfim evoluir”, disse Willian à Revista Safra ES.

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